sábado, 24 de junho de 2017

O Daff e a ostentação rítmica

Gravura Egípcia mostrando mulheres tocando Daff ou Bendir
1 -  Introdução
Surgido ainda nos tempos remotos da antiga civilização egípcia, o Daff, nome conforme é conhecido no Líbano, pode ser considerado o pai do Pandeiro moderno ocidental. Estudiosos acreditam que esse instrumento tenha sido, juntamente com a Mazhar, um desdobramento do ancestral Bendir (pandeiro sem címbalos amplamente utilizado pelos beduínos, principalmente na execução do ritmo "Mesarfe-Shabi"). No Egito, o Daff recebe a denominação "Riq" (nome pelo qual também é mais conhecido mundialmente)
Por sua membrana possuir vibração curta e, por conseqüência, produzir som agudo e seco, o Daff é conhecido também como "pandeiro tenor".
O primeiro Daff a ser tocado em um show no Brasil,  pertenceu à Fuad Haidamus - primeiro mestre de neste pais. Em meados de 1970,  esse instrumento era muito pouco conhecido e sua comercialização, no Brasil, era praticamente nula. Era, naquela época, um instrumento extremamente raro de se conhecer ou possuir. Há muito anos atrás, os egípcios utilizavam para confecção do Daff uma cola especial feita do pó de ossos e peles de carneiro e coelhos. Hoje a cola mais usada é a sintética.
Os melhores pandeiros árabes são os produzidos no Egito, que ainda mantém os métodos tradicionais  na sua confecção.

2 - A forma estrutural do Daff
1 - Mazhar - pandeiro duas vezes maior que a circunferência de um Daff.
2 - Daff (denominação libanesa) Conhecido como pandeiro tenor.
O Daff tradicional apresenta corpo em madeira revestida  por  madrepérolas. Conta, ainda, com um poderoso conjunto de cinco címbalos duplos e revestimento em pele animal (peixe ou cabrito).
Com o objetivo de se afastar as influências sofridas pela umidade do ar, (mesmo problema ocorrido com as Derbakkes) desenvolveram uma versão modernizada em pele sintética.
Apesar de ser bastante utilizada, sua versão moderna não é vista com bons olhos pela grande maioria dos mestres da percussão. Cremos que a versão moderna do Daff gerou uma certa artificialidade na sua sonoridade tradicional.

3 - Finalidade percussiva -  a ostentação rítmica
Particularmente, gosto de referir a esse instrumento como sinônimo de  "ostentação". O Daff alarga as dimensões rítmicas, dando, de certa forma, corpo e revelação ao ritmo.   Certamente, a Derbakke não consegue ostentar uma frase rítmica  tão bem  quando a  feita por um  Daff.
É evidente que, devido seu alto poder sonoro, sua utilização deve sempre ladear o bom senso. Foram desenvolvidas várias técnicas fundamentais que, conforme veremos no próximo tópico, proporciona ao percussionista a possibilidade de controlar sua sonoridade e aplicá-las no momento achar mais oportuno.

4 - Suas principais técnicas (técnicas básicas)
Falaremos, agora, das técnicas básicas usadas no toque do Daff. Convém ressaltarmos que o tema será tratado de maneira sucinta, tendo apenas como objetivo  proporcionar uma breve introdução ao estudo do Daff.
Ao contrário do que muitos imaginam, o Daff possui técnicas tão complexas quanto as de uma Derbakke.  A dificuldade está em  saber conjugar harmonicamente seus dois sons, ou seja, o som estridente de seus címbalos, com o som da  membrana que o reveste. Não basta apenas "bater" no couro e tirar o som, é preciso saber trabalhar as técnicas individualizando e harmonizando seus sons. Cremos que no Brasil são pouquíssimas as pessoas que dominam brilhantemente as técnicas do Daff.
Apenas a título de curiosidade, é possível, no Daff, executar o ritmo Maqsoum em, no mínimo, 15 formas diversificadas, variando  desde os toques mais simples aos mais complexos.  É muito difícil o percussionista utilizar todos esses estilos no acompanhamento de uma canção. Geralmente é aplicada as técnicas que mais pertinentes. Costumo dizer que quem  toca Daff  tem em suas mãos um verdadeiro "arsenal" de estilos e recursos para, da melhor maneira possível, ostentar uma frase rítmica.
É importante frisarmos que as técnicas utilizadas no Daff se diferem significativamente das utilizadas no Pandeiro brasileiro.
Basicamente, existem 3 técnicas básicas aplicáveis ao toque do Daff, então vejamos:
1ª forma - Utilizando todos seus címbalos +  membrana de couro ou nylon;
2ª forma - Utilizando parte de seus címbalos +  membrana de couro ou nylon;
3ª forma - Utilizando apenas a membrana de couro ou nylon.
A membrana de couro ou de nylon é utilizada sempre, seja, pelo menos, para executar o Dum ( batida grave do ritmo ).

4.1 Técnicas utilizando todos os címbalos do Daff
1º movimento - utilizado para executar os toques de menor intensidade (tá e ká) ou o  repique dos címbalos (apesar de existir outra forma de realizá-lo, conforme veremos mais abaixo).
2º movimento - utilizado, também, para executar as batidas rítmicas de menor intensidade, vejamos o exemplo abaixo:
Ritmo: Baladi (4/4) = Dum Dum tá ká Tá  Dum tá ká Tá   tá ká Dum Dum.....

4.2 - Técnicas utilizando parte de seus címbalos
Utiliza-se o címbalo próximo ao dedo anular mais a membrana de couro, para produzir o Dum (batida grave no Daff).
Existem 4 formas de se tocar esse címbalo isoladamente:
1 - toque  címbalo solto,
2 - toque címbalo preso,
3 - repique  trigêmeo e
4 - repique comum.

4.3 - Técnicas utililzando apenas sua membrana de couro
Diferentemente da Derbakke e Doholla, o Dum no Daff não é produzido através da batida no seu centro . Veja o modelo abaixo:
Dum = Batida grave no Daff, sempre usando o dedo indicador
tá = Batida no címbalo utilizando o dedo anular.
ká = Batida na borda do Daff usando o dedo médio.
Utiliza-se apenas a base do pandeiro, produzindo um som seco e de pouco vibração. O ritmo mais usado nestes casos é o Ciftetelli, no acompanhamento de solos improvisados.

5 - O Daff nas Danças árabes.
Pedimos licença aos mestres no assunto para  falarmos sobre o tema. Cremos que devido sua importância na dança, não seria correto deixarmos de lavrar algumas considerações. Sabemos que, juntamente com a espada, o candelabro, a bengala, os véus e os snujs, o Daff também faz parte do rol de acessórios para a prática da Dança do Ventre. Este instrumento também é utilizado em outras danças folclóricas árabes.
É importante ressaltar que na dança, sua utilização é meramente simbólica. É por esse motivo que existem pandeiros específicos para serem utilizados na Dança do Ventre. Geralmente, o Daff utilizado na dança é mais pesado que o utilizado pelos percussionistas. Seus címbalos, sempre de material inferior, não são dotados de grande sonoridade.
Daff profissional, ao contrário,  possui sonoridade mais precisa e um  acabamento mais perfeito.

6 - Alguns cuidados especiais
Daff em pele de peixe ou de cabrito querer alguns cuidados específicos. 
As dicas aqui valem para qualquer instrumento que possua membrana em couro natural.
Utilizando um creme hidratante comum, é possível manter a pele do Daff sempre nova e com excelente vibração. Aplique cinco gotas de creme hidratante sobre o couro e, com um pano limpo e seco, espalhe cuidadosamente. Perceba  que o couro absorverá imediatamente o produto aplicado. Após isso, passe novamente outro pano limpo para tirar os excessos. Espere o couro secar por inteiro antes de tocar novamente. Convêm periodicamente realizarmos tal procedimento.
A pele artificial (nylon) não requer tantos cuidados, apenas que não fique exposta ao calor em excesso.

Fonte:
http://www.vitorabudhiar.com/daff.htm

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