sábado, 9 de setembro de 2017

A percussão árabe no Brasil

Aqui, daremos maior ênfase à fase inicial da percussão árabe no Brasil, aplicando maior ênfase aos trabalhos realizados por Fuad Haidamus neste campo, contando a história de seus instrumentos e objetos por ele confeccionados.

2 - Início da música árabe percussiva no Brasil.
Fuad Haidamus no
restaurante Bier Maza
Não se sabe ao certo a data precisa. Acreditamos que tenha iniciado no final dos anos 60 e início dos anos 70, pois, neste período, Haidamus já iniciara seus trabalhos como músico árabe profissional no Brasil. Podemos afirmar que a música árabe nasceu, no Brasil, nos restaurantes árabes da época.
É curioso observar que desde os tempos dos legendários restaurantes paulistanos "Bier Maza" e "Porta Aberta",  a relação restaurante árabe - música árabe persiste até os dias atuais.
(Essa relação pode ser vista como uma reprodução do que ocorre tradicionalmente entre os povos árabes no mês do Ramadan, que, além de seu significado religioso para os muçulmanos, acabou se transformando num período de verdadeira confraternização entre as famílias árabes. É um período de se reunir com os amigos, comer bem e apreciar uma bela canção).
Sobre um pequeno palco decorado ao estilo "tenda árabe", três ou quatro músicos (dentre eles Fuad Haidamus na derbakke e Wady Cury no alaúde) se apresentavam ante a uma pequena platéia de espectadores. Assim se deu o início da percussão árabe no Brasil (ou a musica árabe como um todo), tendo como instrumentos iniciais o derbakke tradicional, feito em cerâmica queimada e o daff, em madeira e pele de peixe. Os snujs também surgiram nesse período, porém, foram imortalizados pelas mãos de Shahrazad Sharkey, pioneira e maior mestra de snujs para dança do ventre no Brasil.

3 - Os primeiros Derbakkes no Brasil (Confecção e comercialização)
A comercialização dos primeiros derbakkes no Brasil ocorreu a partir de 1975 respectivamente, e, mesmo assim, era algo bastante restritivo. Fuad Haidamus foi o maior produtor de derbakkes do Brasil, chegando a fornecer alguns de seus instrumentos para algumas lojas musicais paulistanas, como, por exemplo, a conceituada e tradicional "Casa Manon".
Fios originais usados
por Haidamus na confecção
dos primeiros derbakkes
Evidentemente, a procura era baixa e a sua venda ficara adstrita apenas à membros da colônia árabe e interessados amantes da música árabe. A derbakke era considerada um instrumento exótico, diferente.
Os primeiros derbakkes no Brasil, confeccionados por Fuad Haidamus, eram feitos em cerâmica especial de Belém do Pará e revestida com pele de cabrito que era especialmente cortada, furada, costurada e, por final, colada. Possuíam excelente sonoridade e seguiam o modelo tradicional marroquino.
Fuad Haidamus, buscando sempre aprimorar a qualidade sonora de seus instrumentos, trabalhou também como um grande pesquisador na busca de melhores peles para a confecção.
Com o surgimento da globalização, principalmente após o advento da internet e o aparecimento de novas lojas árabes no Brasil especializadas em importação, a dificuldade em adquirir um derbakke ou qualquer outro instrumento árabe, ficou bastante abrandada.

3 - A Afinação dos derbakkes tradicionais
Afinação de derbakke  através de emprego de lâmpada
Como as derbakkes tradicionais não possuem tarraxas para serem afinadas, (o couro é colado diretamente no corpo do instrumento) diferentemente com o que ocorre com a sua versão contemporânea (ou moderna), devemos aquecer o couro para que chegue a uma correta afinação. O aquecimento serve para evaporar toda a umidade absorvida pela pele animal, fazendo-a "esticar". Há muito tempo, quando o  fogo era a única fonte de calor conhecida, colocavam os instrumentos próximos a fogueiras ou brasidos para serem afinados. O uso de lâmpadas já é considerado algo bastante moderno de se utilizar para afinação das derbakkes tradicionais.
Suporte Especial
Não sabemos com exatidão quem inventou essa técnica, porém, Fuad Haidamus foi o primeiro a utilizá-la no Brasil, projetando um suporte especial que o possibilitava tocar e aquecer o couro ao mesmo tempo. Outro dado importante da genialidade de Haidamus na confecção desse suporte, é que mesmo estando dentro do instrumento não interferia  na sua sonoridade. O som produzido conseguia circular livremente no interior do instrumento, passando com total facilidade através do suporte de afinação.
As derbakkes contemporâneas produzidas em alumínio e pele de nylon, surgiram com o objetivo de sanar certas deficiências de sua versão tradicional no que diz respeito a sua utilização em shows. Trata-se de um modelo preparado para ser utilizado em espetáculos, pois, possui corpo em alumínio (facilitando o transporte por ser mais resistente que a cerâmica) e pele sintética (que mesmo sendo inferior a animal, não sofre influencia de umidade do ar, mantendo-se, assim, sempre afinada)

4 - O estojo para derbakke de Fuad Haidamus (histórico)
Histórico estojo de Fuad Haidamus em madeira maciça - 1970
Em meados de 1969-1970,  Fuad Haidamus e seu conjunto de músicos passaram a viajar para inúmeras cidades do Brasil. Ante as dificuldades no transporte dos instrumentos, Haidamus idealizou e confeccionou um estojo especial  que propiciava segurança e proteção integral ao instrumento.
Sabemos que Haidamus confeccionou dois estojos para Derbakke. O primeiro (foto ao lado) fora criado em 1970 aproximadamente, e o segundo, que praticamente fora uma réplica do primeiro, em 1977.
Fuad Haidamus utilizou esses estojos quando tocou na lendária tenda árabe "Bier Maza".
Acreditamos que seu segundo estojo, - confeccionado em 1977 respectivamente - fora inutilizado após seu afastamento em definitivo das apresentações musicais.
O primeiro e legendário estojo, dado de presente por Fuad Haidamus a Vitor Abud Hiar  em 1979 - 80 como incentivo aos seus estudos de percussão, permanece conservado  em  sua total originalidade e integralidade.
O estojo para Derbakke de Fuad Haidamus é  uma peça histórica de maior relevância, quando falamos em música árabe no Brasil.

5 - O Daff e os Snujs
O Daff fora o primeiro instrumento musical tocado por Fuad Haidamus em um show no Brasil, antes de sua mudança em definitivo para o Derbakke. Após tal acontecimento, outros percussionistas começaram a surgir e o acompanhavam musicalmente nos seus solos de percussão.
Em relação aos Snujs, surgiram e foram imortalizados no Brasil pelas mãos de Shahrazad Sharkey, mestra e pioneira da Dança do Ventre no Brasil, que os utilizava frequentemente em suas apresentações de dança.

Fonte:
http://www.vitorabudhiar.com/derbake_brasil.htm

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