sábado, 11 de outubro de 2014

A Era do Ouro - Badeia Masabny

A Rainha das Casas Noturnas Egípcias

Uma mulher que tinha total controle e monopólio sobre a vida noturna de entretenimento no Cairo. Sua orquestra, seus músicos, cantores e dançarinas eram os líderes na área e quando olhamos mais de perto, percebemos que quase todos eles eram ou ainda são referências em nossa escala de excelência e consideração clássica.
Uma garota libanesa já madura na idade de 17 anos, decidida a mudar-se para o Cairo com o propósito de seguir uma carreira artística uma vez que seu amor pelo canto e pela dança era mais forte que qualquer poder de persuasão apresentado obstinadamente por sua família.
Badeia Masabny (pronuncia-se Badee-a Masubni) mudou-se para o Cairo e começou a trabalhar em algumas pequenas casas noturnas onde a vida de entretenimento noturno florescia e prosperava, entretanto era controlada principalmente pos estrangeiros ocidentais, libaneses, sírios, ingleses, franceses, gregos, turcos alemães, americanos, etc... Mesmo as dançarinas, cantores e comediantes, não eram egípcios. Entretando, Badeia teve muito apoio e encorajamento de seus amigos libaneses e sírios em um negócio para os quais ela manteve muitas noites de entretenimento, danças e cantos em seus casamentos, e cantava a “Meijana” e “Etaba” (estilos libaneses e sírios especializados em lamentação), que trazia de volta memórias saudosas de casa e fazia com que eles se sentissem mais perto de suas terras natais.

Um jovem ator libanês chamado Nageeb Elias El Rihany (que era apadrinhado pelo famoso ator e diretor Aziz Eid Fa´ e que o mandara para Paris, para estudar produção cinematográfica) estava em uma destas festas e casamentos nos quais Badeia cantava e dançava. Nageeb fora introduzido no teatro egípcio por Aziz Fa´ em uma de suas peças, uma comédia, que o tornou muito bem sucedido e criou um nome e um rosto famoso com isso. Entretanto, Nageeb não estava interessado em comédias e tentou seu talento para tragédias, mas falhou a ponto de perder todas as ofertas de emprego e tornar-se falido e muito pobre.
Nageeb se encontrou depois com um agente desconhecido que acreditou nele como comediante e financiou sua companhia cômica e assim o jovem ator Nageeb percebeu que esta era a forma como as pessoas o viam e ele começou a acreditar em suas habilidades de comediante, e escreveu uma peça sobre um pequeno fazendeiro produtor de algodão na minúscula vila de Kafr El Ballas chamado Kesh-Kesh Beih (no estilo turco de ascensão social, a estratificação é feita como a seguir: Effendi = Senhor, Beih = Sir, Pasha = Príncipe), que veio para o Cairo vender seu material, então ele consegue vender tudo e vai a um clube noturno para celebrar sua grande venda do ano. Kesh-Kesh Beih fica muito acostumado com a vida noturna, vivendo entre todas as dançarinas e cantoras e gastando todo seu dinheiro. Ele volta para casa, planta outra safra e vende no próximo ano, quando volta para o Cairo e repete toda a história novamente. Nesta peça, Nageeb encontrou muito facilmente sua heroína para dividir o papel principal pois se lembrava da bela dançarina libanesa que havia conhecido em uma festa de casamento.
O público amou a peça e amou a dança e o canto de Badeia, sem mencionar sua beleza cativante e seu canto de diversas músicas que tornaram-se sucessos estrondosos na época:

“Ya mena-anesha Ya Betaaet Elloze
Taali NelAb Fard We Goze”
(Bela jovem vendedora de amêndoas
Venha, vamos tocar. Em solos ou em par?)
E também
“Yabol KeshaKesh Ya Tara?
Kan Bas Eih Elli Gara?”
(Oh Sr. KeshaKesh eu me pergunto
O que houve com você?)

Todas as noites, Badeia tinha o cuidado de apresentar uma nova coreografia na dança, uma nova canção e um novo vestido, que mantinham o público muito intrigado e ansioso por ver que novidades ela estava preparando para encantá-los. Toda esta fama e admiração do público abriram várias portas financeiras e artísticas à jovem Badeia.
Durante seu estrelato e sucesso, o herói e a heroína da peça casaram-se, o que fez deles ainda mais centro das atenções. O casamento durou dois anos inteiros, mas sem crianças, e então eles se divorciaram. Badeia não continuou a mesma peça com outros membros, mas decidiu estrelar sua pópria companhia; ela alugou um palco na Rua Emad El Deen, a famosa rua das casas noturnas da época, casas de entretenimento e teatros, e iniciou sua própria companhia de shows e danças apresentando todas as formas de dança e canto masculinos e femininos, cenas de comédias e também apresentando as mais belas dançarinas de todo o país, e ela costumava apresentar uma ou duas peças com ela mesma cantando juntamente com uma linha de coristas dançando e cantando como acompanhamento, e costumava acabar a noite com uma grande apresentação de diversos estilos de dança egípcia, que depois recebeu o nome de “RAKS SHARKI” (Dança Oriental).
Você sabe que a pura dança egípcia é chamada BALADI (que é o país ou terra natal, ou meu próprio país) (Veja neste site o artigo denominado “Zeinab”). Neste palco de Badeia em particular, diversas dançarinas e grupos de dança, folclóricos ou não, apresentavam vários shows durante a noite. Pelo estilo que a música deve ter, deveria haver uma grande introdução com grande orquestra egípcia bem como arranjos no estilo clássico, então haver um pouco de música no estilo puramente egípcio e a apresentação de uma variedade de dançarinos e músicos egípcios e do Oriente Médio e mesmo estrangeiros, então partir para o estilo Baladi egípcio, e finalizar com um grand finale que retoma a introdução original da música. Você pode achar músicas deste estilo em meus CDs (ROHE EUCD 1082 & FADDAH – EUCD 1614).

O sucesso da casa de Badeia continuou por várias temporadas consecutivas, o que levou-a a comprar um terreno na Royal Opera Square, uma locação muito famosa no coração do Cairo, e ela construiu um magnífico prédio que continha um grande teatro, uma casa noturna de tamanho razoável que apresentava novos cantores talentosos que mais tarde tornaram-se líderes nesta área, tais como Ibrahim Hammouda, Farid Al Atrash, Mohamed Abdel Motteleb. Bem como diversos compositores famosos como Mahmoud El Sherif, e músicos/compositores como Ahmed Sherif, famoso por Wahawi Ya Wahawi (uma canção muito famosa que as crianças egípcias cantam até hoje no famoso mês religioso de Ramadan, no qual os muçulmanos jejuam do nascer ao por do sol) e a canção Nebayyen Zein We Nedog El Wadaa (outra famosa canção que diz “Eu vejo bem o futuro e entendo da leitura de búzios, que é cantada pelos narradores no litoral do Egito), e a música de El Erque Soos (canção do homem que produz licores). Próximo ao teatro e à casa noturna havia um prédio que tinha uma cafeteria com um bar no primeiro piso. No segundo piso, era um restaurante de primeira classe com um belo jardim interior com uma vista de tirar o fôlego da parte antiga e nova do Cairo ao mesmo tempo.
O palco de Badeia Masabny apresentou e trouxe ao mundo diversas dançarinas lendárias, que já conhecemos hoje como STARS OF EGYPT (Estrelas do Egito), como Taheyya Karioka, Samya Gamal, Naima Adef, Naima Gamal, Beiba Ezz Eddin, Beiba Ibrahim, Zuzu Mohammed e Juliet, que foi adotada por Badeia e recebeu o nome de Layla Al Saqraa (Layla Loira), e Nadia Salama. O grupo de dança de Badeia também tomava corpo e revelou muitas outras estrelas famosas como Soraya Helmy e Ismail Yassin (dois dos maiores comediantes do Egito) e os escritores Abou El Saud Al Ibiary, Mahmoud Fahmy, Ibrahim El Qalawy e Fahmy Aman. Todos estes nomes dominaram a cena do cinema, teatro e clubes noturnos durante os anos 40 e boa parte dos anos 50, quando Badeia voltou para o Líbano após a revolução de 23 de julho de 1952 no Egito, com medo de ter sua fortuna confiscada pelo novo regime republicano.
Badeia produziu dois filmes em seu tempo: “Layali Al Qahira” (As Noites do Cairo) e “Maleket El Masareh” (A Rainha dos Teatros) (Clipes de danças destes dois filmes estão incluídos nos vídeos da série “STARS OF EGYPT”)

Após seu divórcio de Nageeb El Rihany, Badeia não casou novamente, e voltou ao Libano como mencionado acima, após vender seu centro artístico e tudo o mais para sua aluna Beiba Ezz Eddin. Lá ela abriu um restaurante próximo à montanha, e viveu ali até que suas cortinas baixaram-se após o ato final.
Dançarinas, cantores, músicos, artistas e público do Oriente Médio devem um reconhecimento póstumo apropriado a Badeia Masabny por ter a visão e a força necessárias para criar uma plataforma inicial para as artes egípcias e árabes serem apresentadas a todos, e por ter nos dado todas as estrelas que admiramos e seguimos até hoje.

Fonte:
http://www.hossamramzy.com/portuguese/stars/starsofegypt_badiea.htm

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