sábado, 8 de novembro de 2014

A Era do Ouro - Nagwa Fouad

Ela era a filha única, nascida em uma pobre família egípcia. AWATEF MOHAMMED EL AGAMY, depois conhecida como NAGWA FOUAD mudou-se para o Cairo após perceber seu potencial, amor e habilidade na dança egípcia através de suas apresentações para sua família e em casamentos locais e encontros sociais, que a fizeram pensar seriamente em se profissionalizar. Então, ela veio para o Cairo e começou a trabalhar em algumas pequenas casas noturnas, onde atraiu muita atenção para si através de sua interpretação musical perfeita, seu corpo magro, sua excelente performance, suas qualidades rítmicas únicas e um sentimento romântico pela dança que tinha efeito magnético sobre todas as suas audiências.
Nagwa treinou através das mãos de várias dançarinas aposentadas e treinadores e coreógrafos contemporâneos, bem como valeu-se de seu sexto sentido para escolher os maiores músicos clássicos para compor sua banda. Ela treinava não apenas dança e música egípcia, mas também se concentrava em aprender dança e música ocidental clássica e contemporânea, como ballet, jazz e sapateado, o que proporcionou-lhe um enorme arquivo de referências para criar conforme sua carreira desenvolvia-se durante os anos 50, 60, 70, 80, 90 e agora durante a primeira década do séc. XXI, pelo que somos todos orgulhosos.
Esta incrível dançarina é, no momento em que escrevemos este artigo, a única dançarina estrela de cinema remanescente da década de 50 e ela foi agraciada com o título e a coroa que a fazem constar na série de vídeo “STARS OR EGYPT” como uma das damas históricas que fizeram da dança egípcia tudo aquilo que ela é hoje em dia.
A habilidade que Nagwa Fouad tem de manter-se saudável e flexível é devida ao seu amor pela dança e pelos esportes. Seus esportes favoritos são tênis, exercícios aeróbicos e natação, e caminhar, o que ela tem feito cuidadosamente para manter sua forma e beleza durante toda a vida.
Sua primeira aparição no mundo do cinema foi no filme “Sharei El Hob” (A Rua do Amor), estrelado por um magnífico corpo de estrelas, atores e atrizes, e por cantores como Hessein Reyad, o avô dos atores egípcios, Abdel Salam El Naboulsy, Zeinat Sedqy e claro, estrelando Abdel Halim Hafiz com a clássica canção “Olulu” (Diga a Ela) (Esta música está disponível no CD de Hossam Ramzy “Best Of Abdel Halim Hafiz” EUCD 1195). A história deste sucesso cinematográfico é sobre um jovem artista nascido em uma família pobre da Rua Mohammed Ali, onde vivem todos os músicos do Cairo, cujo pai era um pobre músico da Hasaballa Band, e aqui incluo um pedaço da história musical egípcia para você.
O estilo musical de Hasaballa veio de um músico chamado Hasaballa, um ex-músico de banda militar que formou uma banda com seus velhos amigos aposentados do exército, tocando em casamentos tradicionais no Egito, músicas folclóricas e populares, com instrumentos de metal em um estilo de bandas de marcha. Eles eram sonoros, baratos e atraíam muita atenção com seus antigos uniformes militares especialmente quando eram contratados para um evento que necessitasse de muito barulho, como para o dote de uma noiva, onde as parafernálias e roupas dela eram transferidos da casa de seus pais para a casa de seu marido, para onde ela deveria ir. Eles também eram contratados em outras ocasiões como quando alguém era libertado da prisão, casamentos, e quando alguém estava indo para Meca fazer sua peregrinação.
Voltando à história do filme, eles mandaram este jovem garoto talentoso, interpretado por Abdel Halim Hafiz, ao Instituto de Música Árabe para estudar música e canto e voltar como um artista educado de quem eles pudessem se orgulhar. Veja bem, a maioria das pessoas tinha baixo conceito sobre a banda Hasaballa e os músicos da Rua Mohammed Ali, então seria uma oportunidade excelente para adquirir respeito social se um deles fosse uma pessoa educada que pudesse ensinar a todos as maneiras apropriadas, e fosse alguém de quem pudessem se orgulhar.
De um jeito ou de outro, quando o jovem garoto, Abdel Halim Hafiz, volta de seu curso após passar nos exames, ele se encontra com uma grande festa de rua onde, como vocês poderão ouvir na canção “Olulu”, há quase um duelo entre a banda egípcia “regular” e a banda Hasaballa. Nagwa dançou esta música em sua primeira aparição em um filme, o que, na minha opinião pessoal, foi o mais perto que alguém podeira chegar de alcançar a demonstração mais natural de uma verdadeira jovem egípcia comum (na melhor definição da palavra comum) dançando. Perfeitamente inocente, cheia de amor, com excelente expressão emocional, traduzindo todas as batidas da música maravilhosamente bem e retratando a linha histórica em uma performance de mestre que é preciso ver para crer.
O filme Sharei El Hob tornou-se um clássico e trouxe fama para Nagwa, Abdel Halim Hafiz, bem como para SABAH, o notório cantor libanês. Após isso, Nagwa sempre apresentava-se em concertos de Abdel Halim como a estrela da abertura de seus shows, que a faziam mais e mais famosa enquanto Abdel Halim era entitulado “A uva escura do Egito” por sua bela e doce voz sombria e por quebrar os corações de quase TODAS as mulheres árabes, e não apenas das egípcias.
Nagwa Fouad tornou-se muito conscienciosa do fato de que sua banda tinha que ter padrão ao menos compatível, senão tão bom quanto a de Abdel Halim, que costumava trabalhar com a AL MASSEYA ORCHESTRA (Orquestra O Diamante), liderada por Ahmed Fouad Hassam, o tocador de Quanoon, e alguns dos famosos músicos da banda eram, entre outros, Mahmoud Effat tocando Nay (também apresentado no CD de Hossam Ramzy “The Best Of Om Kolthoum”, junto com Abdel Halim, Farid Al Atrash e Mohammed Abdel Wahab e aqueles a quem o álbum “Source of Fire” de Hossam Ramzy é dedicado), Mahmoud Hammouda na Tabla (o principal professor de Hossam), e diversos dos maiores e mais respeitáveis violinistas e instrumentistas de conjuntos de cordas de todo o Oriente Médio.
Em sua banda, Nagwa Fouad tinha Ahmed Hammouda, irmão de Mahmoud Hammouda, tocando Tabla, o mestre de todos os percussionistas no estilo dançante e o primeiro homem a tocar um “Solo de Tabla ao Vivo” gravado na história da música para dançar e se apresentar. Ele incorporava diversos elementos folclóricos egípcios tais como o Haggala e o estilo Oásis de ritmos beduínos naquele solo de Tabla que ainda podem ser ouvidos hoje em diversos CDs para dança e que muitos tocadores ainda copiam como seus solos de Tabla padrão. Ahmed Hammouda também incorporava vários estilos de seqüências dos “Taks” que podiam ser tocados até mesmo no ritmo Maqsoum, na contagem de 1&2 e então seguidos por paradas de um “Dum” na contagem de 3 e um “Slap” na contagem de 4, que se tornou o “Solo de Tabla Clássico” de todos os tempos. Nagwa também tinha Mohammed Ayyad no Duff e Mazhar, e mais um enorme grupo de percussionistas. No solo de Violino, às vezes ela tinha Mahmoud El Gersha (um dos mais sensuais violinistas solo do Egito, que conseguia misturar sons egípcios com clássicos ocidentais e então voltar ao mais sujo Baladi e voltar para o estilo dançante após apenas 4 barras de música). Ela também tinha Samy El Bably no Trompete (também tocado diversas vezes nos CDs de Hossam Ramzy), o único homem que podia tocar um trompete ocidental como se fosse um instrumento egípcio. No Acordeom, ela tinha Hassan Abu El Saud (do famoso CD “Saher El Accordion” e também um dos tocadores favoritos de Ahmed Adaweya), e além disso, às vezes, ela tinha Mohammed Amidu no acordeom (que compôs diversas das músicas que ela usava para dançar) e ás vezes, ainda, ela tinha Mohammed Asfour (também da banda de Ahmed Adaweya). Mas seu performer mais miraculoso era o tocador de Nay Sayed Abu Sheffa. A palavra Abu Sheffa quer dizer o homem com lábios leporinos (fenda no palato), o que torna impossível tocar QUALQUER instrumento de sopro. Entretanto, Abu Sheffa tocava a Nay e a flauta de bambu egípcia Kawala como ninguém mais tocava. Ele conseguia sons extremamente incendiários e tinha uma habilidade incrível de deixar as pessoas assombradas com uma nota musical direta.
Uma vez que a verdadeira dançarina egípcia deve ser considerada, por todos aqueles que sabem alguma coisa de dança egípcia, como um outro membro instrumental da orquestra, é a dançarina que faz com que a música ganhe vida, que dá ao som uma existência física, tri-dimensional. Interagir com seus músicos, inspirá-los como ela ficava inspirada por suas performances virtuosas pegava o público pelo cangote e retratava a audiência em sua sedução estética. Tendo uma banda com tal poder aterrador, e acreditem, eles não eram mais fortes que os grupos de músicos mencionados acima, Nagwa tornou-se mais e mais musical, rítmica, e adquiriu mais e mais talento em sua dança e suas apresentações musicais, capazes de explorar o impossível e ir suavemente até onde nenhuma dançarina anterior conseguira chegar.
Diversas das coreografias e performances de Nagwa tinham aquele elemento surpreendente, bem como costumavam experimentar ao máximo os limites da fusão, enquanto aderiam às mais puras formas de arte que estavam sendo fundidas. Ela realmente compreendia seu Baladi e seus estilos clássicos egípcios, árabes e do norte da África de dança folclórica ou comum.
Ela também estudou ballet clássico ocidental, jazz e sapateado, e em algumas de suas performances no tablado, lembro dela usar um pouco de flamenco e mesmo de tango argentino.
O amor e a admiração das pessoas pela dança e pela espantosa personalidade de Nagwa Fouad não vinha apenas de seu público amoroso ao redor do mundo, mas também de compositores como o lendário Mohammed Abdel Wahab, que compôs a música dançante “Amar Arbaatasher” (A Lua do 14º Dia do Mês Lunar – que é o dia em que a lua está mais bela) especialmente para ela, e claro que a coreografia, o cenário, roupas e a apresentação desta música eram equivalentes à qualidade de seu compositor.
Lembro uma vez no Cairo, em 1998, quando eu passava uma manhã no Hotel Marriot onde Nagwa estava dançando e pensei comigo mesmo... O show me parecia um pouco estranho, havia alguns poucos elementos sobre os quais eu não tinha muita certeza se combinavam com o show e eu queria ver onde Nagwa chegaria com esta fusão. Então perguntei a ela quando ela viria à minha mesa dançar “Ashara Baladi” (que significa “Dez Baladi”) (Como é conhecido por nós do Egito. É uma seqüência de dança do puro folclore egípcio urbano, sobre a qual você pode ler mais a respeito neste site, sob o nome “Baladi” e também em outro artigo chamado “Zeinab”). Para encurtar um pouco a história, Hamidu tocou a introdução no acordeom e ela dançou de forma tão sensual, tão perfeita no tom e em sua harmonia com o músico até que o ritmo começasse e ela arrebatasse meu coração direto pela garganta e trouxesse lágrimas a meus olhos, isso sem mencionar o solo de Tabla que ela fez depois com Ali Ahmed Ali (o tocador de Tabla que na época era o percussionista particular e professor e treinador de Mona El Said), que eletrizou todo o lugar, e arrancou aplausos do público até quase fazer o salão vir abaixo.
Diversas das famosas peças dançadas que têm sido apresentadas em quase todas as casas noturnas da cena árabe/egípcia, tais como Naasa, Mashaael, Ali Loze, Shick-Shack-Shok, El Saidi e Amar Arbaatasher foram na realidade compostas para Nagwa Fouad. E isto para mencionar apenas algumas.
Agradeço a Deus pelo fato de até o dia em que escrevi este artigo, 21 de Novembro de 2001, em um vôo da Varig número 8614 de Buenos Aires, Argentina, a caminho para Santiago, no Chile, para uma turnê com workshop sobre dança entre os dois países, nossa amada Nagwa Fouad ainda está viva e muito envolvida com o mundo da arte, dança e música, e oro para que ela possa continuar conosco com boa saúde e espírito elevado.

Fonte:
http://www.hossamramzy.com/portuguese/stars/starsofegypt_nagwa.htm

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