"A música e o ritmo encontram seu caminho pelos lugares secretos da alma."
Platão
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daff |
1. História, origem e conceito
Desde os primórdios, a percussão sempre foi algo que fascinou o ser humano. Dados históricos revelam que o tambor foi um dos primeiros instrumentos musicais criados pelo homem. Assim surgem posteriormente os ritmos tribais que acabaram se tornando, muitas vezes, característica marcante de um povo ou nação.
Tabla é a palavra árabe para derbaque.
Destinado em sua totalidade para execução das danças árabes, o solo de tabla árabe possui alto grau de importância dentro da esfera do Oriente Médio. Existem solos específicos para ocasiões específicas. Obviamente, é praticamente impossível falarmos de percussão árabe sem mencionarmos a dança do ventre. Percussão e dança do ventre estão intrinsecamente ligados, e talvez, por isso temos visto algumas bailarinas que também são derbaquistas.
1.1. Percussão do Oriente Médio e diferenças da percussão árabe
É bastante comum vermos serem estabelecidas uma estrita ligação entre a expressão percussão do Oriente Médio e os instrumentos e a música percussiva do mundo árabe.
A percussão do Oriente Médio é uma expressão geral, de sentido lato. Tenta abranger em seu rol a percussão (ritmos e instrumentos) tocada no mundo árabe, bem como a de nações próximas, que não são consideradas árabes (nações do médio Oriente), como a Turquia, o Irã, o Kirquistão e Israel. Inclui-se também a percussão típica de países como o Cazaquistão, o Turcomenistão e o Uzbequistão, que readquiriram independência com o fim da União Soviética.
Podemos notar também que a expressão percussão do Oriente Médio apresenta algumas exclusões, pois não engloba países árabes como o Marrocos e a Líbia.
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1.2. Escolas de percussão árabe
Há duas filosofias doutrinárias básicas de interpretação e de técnica rítmicas, ensinadas nas escolas árabes de percussão: a clássica egípcia e a sírio-libanesa. Como essas filosofias advêm de uma mesma fonte (são escolas irmãs), tentar traçar um quadro de semelhanças e diferenças é uma tarefa complexa.
São semelhantes porque estão ligadas à alma baladi. O ensino visa conhecer e interpretar os ritmos não somente com olhos ou ouvidos, mas também com o coração e com a alma despidos de qualquer formalidade.
As diferenças referem-se ao embasamento teórico para o uso de técnicas de percussão e para a respectiva interpretação das nuanças sonoras e à nomenclatura dos instrumentos percussivos.
Outras características:
Clássica Egípcia: uso de peles naturais; exigência maior das habilidades do músico no uso do sentimentalismo interpretativo.
Sírio-Libanesa: uso de peles artificiais; influência do modernismo.
1.3. Instrumentos
Compõem o rol de instrumentos da percussão do Oriente Médio: tar, riq, daff, tombak ou zarb, derbaque turco, tabla ou derbaque, doholah, doira, bendir, naqarat, hylsung, pandeiro e tamboura.
Quadro geral de instrumentos musicais:
Divisão por espécie
Cordas
Alaúde: considerado historicamente o pai do violão e avô da guitarra, possui som semelhante ao da voz humana.
Buzok: semelhante a balalaica russa.
Kamanja (violino): violino comum.
Kanun: espécie de harpa árabe tocada no colo ou em suporte, pode ser ancestral do piano.
Rabab: tocado com arco, possui som bastante cacterístico e inconfundível.
Sopro
Acordeon: o mesmo que sanfona.
Kernayta: semelhante à clarineta.
Mejwiz: duas flautas em bambú interligadas.
Nai: flauta semelhante a uma flauta doce.
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doholah |
Percussão
Atabaques e bateria: inseridos na percussão árabe moderna.
Bendir ou daff: pandeiro em diversas dimensões, não apresenta címbalos.
Bongôs: principal instrumento de ritmos caribenhos.
Derbaque ou tabla: principal instrumento da percussão árabe tradicional.
Derbaque turco: Não é um instrumento musical tipicamente árabe, apesar de ser considerado uma espécie de versão da tabla árabe.
Doholah: semelhante à tabla egípcia, porém com sonoridade grave.
Mazhar: semelhante ao riq, porém com sonoridade grave.
O mazhar egípcio tradicional tem címbalos metálicos grandes e pele de cabra. É comumente usado na execução do ritmo do camelo (ayub). O mazhar libanês tem uma versão modernizada sem címbalos. É inspirado no daff ou bendir egípcios, mas permite a utilização de peles mais sofisticadas, com melhor resposta para todo tipo de afinação.
Riq ou daff: pandeiro tenor com cinco címbalos duplos.
Snujs ou Sagat: conjunto de címbalos tocados em ambas as mãos.
Tabel ou tabla baladi: grande tambor utilizado geralmente em festivais. Marca as danças dabke e saidi folclórica.
Zarb ou tombak: instrumento de percussão iraniano feito tradicionalmente em corpo de madeira.
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bendir |
1.4. Confecção de instrumentos
Bem, sabemos que a percussão árabe se desenvolveu muito nos últimos tempos.
O Egito, por sua vez, sempre foi a maior referência em termos de percussão no mundo árabe. É muito comum percussionistas libaneses preferirem instrumentos confeccionados naquele país.
A tradição e a técnica milenar na confecção pesam em favor dos instrumentos egípcios.
Os instrumentos mais utilizados modernamente em shows são o derbaque (responsável pelo repique), o daff (mantém a ostentação e a força rítmicas), a doholah egípcia e o bendir ou mazhar libanês (que desenvolvem a base rítmica).
Para a execução de grandes solos de percussão entre tablas, a dupla formada pelo derbaque e a doholah deverá permanecer inalterada.
Os primeiros derbaques tocados no Brasil eram confeccionados pelo pioneiro Fuad Haidamus e seguiam o estilo marroquino, em corpo de cerâmica e pele de cabrito ou bode. Em meados de 1995, Haidamus encerrou a produção de derbaques tradicionais em cerâmica e pele de cabrito. Dessa forma, passou-se a utilizar derbaques em pele sintética ou artificial nos shows pelo país afora.
Tabla tradicional x tabla contemporânea
A versão tradicional de derbaque é feita em corpo de barro e utiliza em sua cobertura membrana animal (couro de peixe ou de cabrito). Sua fabricação se perpetua até os tempos atuais. A versão contemporânea – mais próxima a nós – foi criada em meados dos anos oitenta e é confeccionada em alumínio ou fibra e recoberta com pele artificial.
Conforme entendimento dos grandes mestres da percussão árabe mundial, as tablas modernas ou contemporâneas não substituíram as tablas tradicionais de cerâmica, mas tornaram-se uma alternativa para os músicos percussionistas, graças a sua sonoridade provida de méritos.
Esses mestres ainda preferem as versões tradicionais da tabla, porque o couro sabidamente valoriza e individualiza o toque dos dedos, tornando-os um pouco mais nítidos auditivamente. Essa valorização e individualização de tradicionalismo sonoro realçam os solos extremamente técnicos.
As tablas egípcias contemporâneas passaram a ser utilizadas nas orquestras e conjuntos árabes como melhor opção, uma vez que é bastante complicado manter a pele de uma tabla de cerâmica aquecida e esticada durante todo o tempo de um show.
Há também a questão da resistência ao modo de transporte em viagens. Um instrumento com corpo de cerâmica pode facilmente se quebrar, se não estiver bem protegido.
Fuad Haidamus utilizava pesados estojos em madeira maciça para transportar seus instrumentos em perfeita segurança.
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1.5. Ahmed Hammouda e o solo de tabla árabe clássico.
Segundo a história da percussão árabe, o solo de tabla árabe ou derbaque foi criado e pela primeira vez apresentado no Egito pelo célebre percussionista Ahmed Hammouda.
O fato ocorreu durante uma das apresentações de Nagwa Fouad, a princesa do Cairo. Houve algo com a música e ela, então, continuou somente acompanhada por Ahmed. Isso deslumbrou a platéia. Acabara de surgir o solo de tabla.
Hammouda realizou o solo clássico de tabla árabe, incorporando ao ritmo maksum belos enfeites improvisados de sequências de taks, na contagem de 1 e 2, seguidos por paradas de um dum na contagem de 3 e um slap na contagem de 4.
Técnica única desenvolvida que consiste na combinação e encaixe precisos de ritmos folclóricos árabes, em geral, e egípcios, em especial, como a hagalla e o estilo oásis de ritmos beduínos.
Sua invenção, especialmente criada para a dança do ventre foi adotada pela maioria dos percussionistas árabes.
Ahmed Hammouda, trabalhou ao lado de grandes nomes da dança egípcia e é considerado o pai da percussão árabe moderna.
Cabe destacar que Mahmoud Hammouda, irmão de Ahmed Hammouda, foi mestre de Hossam Ramzy, apelidado de Sultan of swing (sultão do ritmo - uma alusão a sua ascendência da família dos pashas) e Embassador of the rithm (embaixador do ritmo). Hossam segue os passos desses mestres, criando novos ritmos musicais e compondo música para a dança do ventre.
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1.6. O solo de tabla árabe no Brasil
No Brasil, a arte do solo de tabla ou derbaque surgiu há aproximadamente trinta anos.
Fuad Haidamus, nascido em 1920 no Líbano, iniciou seus estudos de percussão aos quinze anos de idade com Jamil Flewar, seu grande mestre libanês de derbaque. Radicou-se no Brasil, onde se tornou mestre e pioneiro da percussão árabe.
Inspirado em seu antigo mestre, em meados de 1970, apresentou o que chamou de solo de derbaque. Haidamus, utilizando o daff como instrumento-base, tocado muitas vezes pelo músico Emílio Bunduki, introduziu o estalo nas finalizações das frases rítmicas de maksum (4/4), ayub (2/4) e malfuf ou laff (4/4). Em outras ocasiões, apresentou o solo de tabla sem acompanhamento-base.
Ainda na década de setenta, o solo e o acompanhamento na tabla passaram a ser difundidos pela televisão brasileira por Haidamus, no extinto programa denominado Programa árabe na TV, veiculado pela Rede Gazeta de Televisão. Nesta mesma época, Haidamus e seu irmão, o mestre alaudista Jorge Haidamus, tocaram na novela O astro (1978), da Rede Globo de Televisão, despertando ainda mais o interesse dos brasileiros pela música e percussão árabes.
Fuad Haidamus também acompanhava especialmente as apresentações da notável e lendária bailarina Shahrazad Sharkey (cujo nome de batismo é Madeleine Iskandarian).
Dama e pioneira da dança do ventre no Brasil, Shahrazad passara a se apresentar com frequência no pequeno palco do extinto restaurante Bier Maza, em São Paulo, em 1979.
Curiosamente, São Paulo é o berço tanto da dança do ventre quanto da percussão árabe no Brasil.
Na década de oitenta, o solo de tabla ou de derbaque passou a ser um dos pontos-chave nas apresentações musicais ao vivo.
A repetição sistemática de repiques improvisados e combinados inseridos a uma curta frase rítmica, se tornou a grande característica dessa arte e é o estilo ideal para a prática da dança do ventre.
Aparentemente semelhantes, cada solo se apresenta como um novo desafio para quem dança. Quando trabalhado com precisão, o solo de tabla emociona a muitos sem exceção. Mostrando-se um peça de expressão artística constante e infinitamente renovada.
2. Construção do solo de tabla
A tabla árabe é um instrumento extremamente versátil em termos de sonoridade. Dessa forma com o derbaque é possível realizar inúmeros sons, enfeites e repiques de acordo com o desejo de cada percussionista.
É importante frisar que o solo de tabla pouco evoluiu desde sua criação.
O solo considerado clássico vem sendo muito repetido nos trabalhos de diversos percussionistas em todo o mundo. Ao analisá-lo, podemos observar uma prática bastante comum: o enfeite de duas frases rítmicas seguidas e, ao final, o estabelecimento de um corte ou aparada. Geralmente os ritmos-base mais usados são o baladi, o saidi, o maksum e o falahi.
Essa execução usual, porém, não é uma regra específica rígida para se construir um solo de percussão árabe. Entretanto podem ser elencados alguns elementos que permitem subsidiar uma boa construção tanto do ponto de vista do percussionista, quanto do da bailarina.
Segundo a opinião dos mestres de percussão árabe, o solo de tabla para dança do ventre deveria ser mantido em suas tradicionalidade e originalidade rítmicas, ou seja, no campo das variações rítmicas exclusivamente árabes. Para eles é um equívoco incluir um "samba" no solo, além de outros ritmos como a salsa, o merengue e os ritmos flamencos.
É evidente que a improvisação "infinitamente livre" deve ser realizada com um certo cuidado, respeitando-se a estrutura e os princípios da percussão árabe, mas é extremamente difícil evitar ou impedir a mesclagem de ritmos. Vários mestres da música árabe clássica, como Mohamad Abdul Wahab e Farid el Atrache, nos anos trinta e quarenta, já faziam essa mistura tanto na música para ouvir, quanto para dançar. Atualmente os grande mestres egípcios da percussão, Sayed Balaha e Hossam Ramzy, lançaram obras contendo pesquisas e estudos sobre ritmos brasileiros e latino-americanos.
Fonte:
http://www.webartigos.com/artigos/tabla-solo-ou-solo-de-percussao-parte-1/18669/#ixzz3fF8IZGuv
http://www.webartigos.com/artigos/tabla-solo-ou-solo-de-percussao-parte-2/19101/#ixzz3fUkLSQSj