quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Guedra

O povo
Os Tuaregs (abandonados por Deus - este termo não é muito bem aceito, por ter este significado um pouco pesado para aqueles que em sua maioria são muçulmanos) são apenas uma das tribos berberes.
Abandonados por Deus, foi inspirado na sua vida solitária, distante de todos, em meio ao deserto. Uma forma de vida que contribuiu para reforçar suas particularidades: língua berbere, costumes, expressão musical e artística em geral. 
As origens dos Tuaregs, se perdeu, como outras tribos berberes, ao longo da antiguidade. Estudiosos tem afirmado ter encontrado, práticas cristãs e pagãs em seus costumes, ainda que hoje em dia os Tuaregs sejam muçulmanos. Guedra utiliza canções muçulmanas como suas canções, mas isso tem obviamente outras associações. A cultura Tuareg hoje em dia tem sido irrevogavelmente prejudicada pela situação política, a qual tem divido o grupo em diversas áreas sob o controle de diferentes governantes. Outra denominação é Mozagites.
Conhecidos também como pessoas azuis, devido à coloração da pele negra retinta e por seus mantos tingidos de anil. O povo azul é um subgrupo dos Tuaregs. O povo azul pertence ao Grupo dos Tuaregs, mas nem todo tuareg faz parte do povo azul. Eles são chamados assim por serem de fato azuis. Usam um tecido que é tingido por um processo envolvendo a trituração do pó de anil nas roupas através da sua esfregação nas pedras deste material.
Como os povos do deserto não tomam tantos banhos assim, este pó azul acaba sendo esfregado em sua pele e ai se deposita. De fato eles acreditam que esta cor azul é benéfica e também tem um efeito estético. Aparentemente ajuda na hidratação da pele.
Os tuaregs não se referem a si próprios como Tuaregs, porque consideram o termo pejorativo. Eles se auto definem “ Povo do Véu” ou Kel Tagilmus, por conta do hábito que os homens Tuareg tem de usar um tecido sobre a cabeça, a partir de certa idade enquanto as mulheres permanecem descobertas.
Eles tem uma influência matriarcal bastante forte em sua cultura. Os homens chefiam e ocupam posições de conselho, mas a liderança é hereditariamente passada através da mulher. Herança vem pelo lado da mãe, e um homem que se case com alguém que é de fora de sua tribo, deve se mudar para a tribo de sua mulher.
Um homem pode ter mobilidade social, ao se casar com uma mulher que tem um status superior mas as mulheres raramente se casam com alguém que tem uma situação inferior a dela. Os homens Tuareg são reconhecidos como sendo dos mais ferozes guerreiros no deserto, e também como ótimos comerciantes. A posição das mulheres Tuareg em sua estrutura social é absolutamente única.

Casamento Tuareg e a corte
Esqueça qualquer comentário que possa ter escutado acerca das dançarinas Guedra como prostituas, a verdade é que em sua cultura, de acordo com Morroco, é considerada uma vantagem o fato de ter experiência sexual- ambos, homens e mulheres tem muitos amantes antes de se casarem.
O respeito e liberdade dados a mulher Tuareg, é por vezes mal interpretado, pelos membros de outras tribos que são muito mais restritivos com suas mulheres. Onde existe prostituição, ela é fortemente condenada pela sociedade tuareg.
Antes de se casar, as mulheres gozam de liberdade e podem aproveitar a vida como melhor lhes pareça. Elas geralmente não trabalham, mas dançam cantam, e escrevem poemas. Dentro da sociedade Tuareg, existem basicamente duas classes sociais, uma classe mais nobre, e a classe dos escravos.
Em alguns grupos esta relação se estabelece por herança ligada a status. As mulheres nobres que possuem escravas, fazem o menos possível, ou absolutamente não trabalham.
Elas fazem queijo e manteiga, ordenham cabras e colhem tâmaras. Tem que aprender a trabalhar com couro, mas são os homens que demonstram maior habilidade com agulhas, e a costura de roupas.
Diferente de suas vizinhas, as mulheres Tuareg podem escolher seus maridos, os homens podem ter mais de uma mulher, mas raramente fazem uso deste direito. Danças de corte são comuns, e uma das formas, de conhecer pessoas.
A noiva tuareg, retém o controle sobre toda a sua propriedade pessoal, incluindo a criação, se tiverem animais em cativeiro, enquanto é esperado do homem que pague as despesas da família. Depois do casamento é esperado um comportamento de respeito de ambos os lados.
A mulher pode ter amigos de ambos os sexos, de uma maneira similar a cultura ocidental. Um provérbio tuareg diz "Homens e mulheres devem ser um para o outro como os olhos e o coração, e não apenas para a cama".

A música
Nas músicas berberes, predomina a poesia cantada explorando temas como a agricultura, ciclos da natureza, vida pastoral, o amor e a guerra. Eles sofreram invasão romana e depois árabe-muçulmana.
O guedra é uma dança sagrada tuareg. Em árabe Guedra é também o nome de um pote para cozinhar, ou caldeirão, que os nômades carregam com eles por onde vão. Este pote recebia um revestimento de pele de animal, que o transformava em tambor.

A dança
O Guedra é uma dança de invocação, onde se transmite energia através de movimentos dos dedos das mãos e punho, podendo ser realizada por uma mulher, duas ou uma mulher e uma criança que adornam seus dedos com henna. Inicia-se a dança com a cabeça coberta com véu preto ou azul. Cada articulação se move com um padrão cadenciado, em movimentos sincopados de ombros e área peitoral, que seguem as batidas rítmicas do instrumento de percussão, enquanto sua cabeça balança lateralmente e seu cabelo, adornado com todos os tipos de conchas e contas, aumenta a beleza do quadro.Com a intensificação do ritmo, a bailarina cresce e torna-se ofegante, seus contornos faciais parecem tensos e contorcidos, os olhos se fecham, todo o seu ser parece, de repente, estar tomado por um feitiço. Exausta pelo esforço físico e emocional da dança, ela deixa o círculo mágico e outra toma o seu lugar.
O ritual tem início com uma mulher, coberta por um véu preto (Haik), representando a escuridão do caos. As mãos se direcionam aos pontos cardeais, mimetizando os quatro elementos (fogo, terra, ar e água) e o tempo (passado, presente e futuro).  Aos poucos ela vai acompanhando o ritmo com o corpo, mostrando a ordem cósmica necessária para a criação do Universo e suas criaturas. Os gestos das mãos simbolizam, a beleza, o amor entre os elementos, o drama, a tristeza.  O ritmo constante como a batida do coração, trás para fora as mãos que descrevem vívidas e expressivos movimentos.
A cabeça é desvelada, com olhos fechados, balançando suavemente como um pêndulo. O ritmo é sustentado por uma guedra ou pote perto da terra, como um pequeno tambor de cerâmica coberto por pele. A pulsação se mantém através do ritmo e da misteriosa linguagem das que dançam. O canto dos espectadores se modifica passando por respirações e um choro gutural. A bailarina gradualmente se despe de seus véus e finalmente desfalece, caindo sobre si mesma. O propósito da dança é servir como benção para amigos ou um casal no dia de seu enlace. A própria comunidade pode ser a razão do encontro. Outras vezes, o ritual pode ser simbolicamente a manifestação da submissão do ser na presença de Deus. E pode ser também considerada uma dança de cura.  O papel desta dança é tido como esotérico na medida em que carrega diversos significados e simbolismos.
É puramente uma dança de purificação e felicidade. Os movimentos são simples, mas como em todas as danças de transe, você precisa se soltar, e permitir o envolvimento total para que de fato a experiência tenha fundamento. A questão é que as danças de transe de fato funcionam, e induzem a um estado alterado de consciência, que pode e deve ser sentido por aqueles que a experimentam.

Indumentária
A roupa tradicional é essencial para a dança. A túnica azul é feita à maneira romana, dois tecidos presos nos ombros por fivelas, pode-se dançar com um longo kaftan. Esta dança nunca deve ser executada usando a versão mais comum de traje que temos, sutiã e cinturão acompanhados de saia e véu. Isto é absolutamente impraticável. O véu negro que cobre a cabeça e todo o corpo da bailarina no início da dança é um tecido bem largo. Ele fica preso na frente da roupa por dois alfinetes, que tem uma longa corrente guarnecida entre eles. A touca na cabeça é decorada com conchas, e tranças artificiais pendem dele.A dançarina entrelaça seu cabelo com as tranças falsas para manter este adereço de cabeça no lugar, ele é decorado e tem sua estrutura feita de um arame fino. O adereço deixa um espaço de ventilação acima da cabeça o que é bastante prático para alguém que mora no deserto, ao mesmo tempo o espaço permite que as tranças se movimentem e libera os meneios de cabeça. As mãos são decoradas com desenhos feitos de henna, e ficam enfatizadas dentro do contexto geral, enquanto a maior parte do corpo está totalmente coberta.

O ritmo
O ritmo guedra, de acordo com Morroco, poderia ser comparado ao ritmo Bulerias do Flamenco, pois tem um padrão rítmico similar;  devido à complexidade. Não é tradicionalmente tocado pelo derbak ou tabla, e nem possui os agudos taks que estamos acostumadas quando se trata de musica árabe para dança.
Possui um sentido diferente das danças de transe, Zaar e Hadraa, já que é puramente alegre e não está conectada à sacrifícios de animais.
Executado com apenas um instrumento o ritual do Guedra depende do canto e das palmas. As mulheres tocavam sinos e eram completamente cobertas por um véu negro.
A base rítmica  : Duh Dah m Duh Dah/ Dun Dah m Duh Dah.
As palmas são alternadas entre o grupo, uma parte bate 1 e a outra bate 2.  Normalmente é um ritual noturno, realizado à luz da lua e ao redor do fogo, não impede de atualmente você assistir um show especial para turistas, em plena luz do meio dia (são as condições de dessacralização que a vida contemporânea nos reserva).

Os instrumentos
Os instrumentos usados são feitos com potes de barro, cobertos com pele de animais, presas com cordas.

 


Fonte:
http://rosangelabronca.blogspot.com.br/p/estilos-de-danca.html
http://ventrequeencanta.com.br/guedra.html
http://www.portaldoegito.com.br/guedra
http://dancas-africanas.blogspot.com.br/2008/12/dana-de-tribos-berberes-que-vivem-na.html

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